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Audiodescrição ganha espaço no Brasil e exige profissionais qualificados

Por Carlos Catete e Pamela Silva

Segundo o IBGE, no Brasil existem aproximadamente 16,5 milhões de pessoas com deficiência visual total e parcial, essa fatia da população nos últimos anos têm encontrado na audiodescrição a forma de se inserir em experiências audiovisuais, ou mesmo outros eventos. Esse método de comunicação vai além de simplesmente descrever o que se vê nas cenas dos filmes ou em outros produtos culturais, como teatro, óperas e até esculturas. A audiodescrição trabalha também com as sutilezas da tradução de emoções, gestos e expressões em palavras.

Uma das precursoras na implantação dessa técnica no Brasil foi a Lívia Motta, que é professora doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, formada pela PUC de São Paulo. Desde 1999, ela trabalhava voluntariamente como professora de inglês, ensinando pessoas com deficiência visual na Laramara – Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual. Essa experiência foi tão desafiadora que a fez repensar na forma de ensinar e preparar as aulas, levando-a também a começar seu doutorado sobre o tema. Durante o doutorado, ela passou um tempo no Reino Unido, onde se deparou pela primeira vez com fitas VHS de filmes com audiodescrição.

"Foi impactante porque eu nunca tinha visto, não conhecia o recurso, e como eu já trabalhava com pessoas com deficiência visual, aquilo me chamou muita atenção." Ela relata.

 

 Atualmente, Lívia é audiodescritora e também oferece cursos para quem tem o interesse em exercer essa profissão, inclusive, o primeiro curso de especialização em audiodescrição foi coordenado por ela, na Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais.

               Lívia Motta e Fátima Angelo na cabide de audiodescrição do espetáculo "Muheres à beira de um ataque de nervos"
Crédito: Maurício Shimoura

 

Cada vez mais a audiodescrição está se inserindo nos produtos culturais e esse fator gera uma demanda maior de profissionais qualificados para o mercado de trabalho. Apesar disso, essa carreira ainda não é vista como uma opção tão interessante para todos, como afirma Lívia:

 

 “O mercado para tornar produtos culturais e eventos acessíveis vem se ampliando, mas ainda assim é restrito. Porque não são todos os teatros, não são todos os livros, não são todos os cinemas, não são todos os lugares que já possuem recursos de acessibilidade implantados, então, isso sem dúvida, restringe o ramo de atuação dos audiodescritores. Mas isso vem se alterando”.  

Embora pareça simples, a audiodescrição requer uma preparação minusiosa do profissional, por isso, quem pretende trabalhar na área precisa estar capacitado para a função e opções para isso, não faltam. Existem cursos  no formato de extensão, livres e até mesmo cursos de pós-graduação. 

 

A profissão se divide em três funções: roteirista, narrador e consultor. O roteirista elabora o texto, analisa onde existem pausas em que as descrições possam ser encaixadas; o narrador faz a locução do roteiro de forma clara, com uma voz agradável, numa leitura corrente, além de um preparo vocal; e o consultor, uma pessoa com deficiência visual, faz a revisão do roteiro e aprova o trabalho.

 

A remuneração dos profissionais da área varia de acordo com o tipo, duração da e estrutura técnica necessária para cada espetáculo, evento ou produto cultural.

 

                                                               Platéia da comédia musical "Muheres à beira de um ataque de nervos”

                                                                                                                  Crédito: Maurício Shimoura

Um dos principais desafios dos profissionais da área é manter o repertório atualizado, para isso o audiodescritor precisa fazer pesquisas constantemente e sempre estar estudando. É muito importante preparar-se para o trabalho de tradução audiovisual que irá ser realizado. “Por exemplo, você vai fazer um trabalho novo, a audiodescrição de uma exposição de obras de arte, então precisa estudar profundamente aquele artista, seu traço, seu estilo, para que a audiodescrição seja adequada, que esteja dentro daquilo que a obra realmente é” explica Lívia.

 

Em relação à técnica, outra preocupação que o audiodescritor enfrenta é o pouco espaço entre as falas dos personagens para inserir a sua audiodescrição. Quando o espaço entre as falas é muito pequeno, o trabalho do profissional é maior. “Temos que adiantar ou atrasar um pouco a informação, ou seja, pensar e definir onde inseirir isso ou aquilo, sem interferir no entendimento do espetáculo ou do produto audiovisual.”, Lívia completa.

 

Para quem quer prosseguir nessa carreira, a boa notícia é que a profissão já foi inserida na CBO – Classificação Brasileira de Ocupações, e encontra-se em processo de regulamentação.

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